sábado, maio 30, 2015

DE BAILARINA PARA BAILARINA - Esmeralda Colabone

Retirado do site da Revista Shimmie

Espetáculos, eventos e festivais. Palavras como estas, constantemente ditas e vividas em nosso repertório de vida artística, são mais do que sinônimos de grandeza. São gigantes por si só! E qual o motivo de darmos tanta importância a esses acontecimentos? Pelo seu alcance? Visibilidade? Status? Espírito competitivo? Ou é pelo prazer de ver as alunas ganhando corpo e espaço no palco, alimentando suas carreiras a partir dos primeiros pratos de experiência pública? A importância, acredito eu, é a soma de tudo isso e mais uma coisa: as bailarinas.

O que seria de nós sem as outras bailarinas e o que seria delas sem você? Bailarina não é nada sozinha! Eu acredito piamente que quando pedimos por referência, exemplos (bons e maus), competição, diversão, aprendizado, julgamento e visibilidade, pedimos por bailarinas! Outras! Mais!

Bailarina se alimenta de bailarina, em todos os sentidos! Você precisa de uma para estudar, para competir, para fofocar (com ela ou sobre ela!) e para fazer cada minuto da sua carreira valer a pena! Nós somos alimento e veneno ao mesmo tempo! Somos exatamente iguais e incrivelmente diferentes. Somos uma cadeia alimentar perfeita!

Daí vocês me apontam o dedo e dizem, “Esmeralda, eu danço pela arte, porque me faz bem, porque é a minha vida! Eu não danço para provar nada a ninguém”, e eu acredito! Por um acaso estou dizendo o oposto? Mas discordo da parte do “não danço para provar nada a ninguém”. Você é ninguém?

Bailocas, 99% da nossa espécie dança pelo amor à arte, pelo prazer que aquilo traz no sentido pessoal antes mesmo que o ego profissional possa sentir o doce na ponta da língua! A vida de quem dança é árdua demais para quem não tem amor. Por maior que seja a sua ambição, a sua determinação na carreira e lucro, você precisa de um pouco de amor à arte para seguir em frente. Após a constatação deste amor, vem a conjugação dos verbos no presente do modo indicativo: Eu aprendo – EU quero – EU Posso – EU SEI – EU SOU! Nesta ordem, nesta intensidade. É impossível controlar a ganância do ego, uma vez que você descobre que pode viver num pedestal… Que mulher resiste? NENHUMA!

Nós, mulheres-bailarinas-dançarinas, não resistimos a nada que brilhe e que nos faça brilhar… É o melhor mau do mundo!

Nosso pedestal? Lá no primeiro parágrafo, primeira linha, primeiras três palavras! E só a gente sabe o duro que a gente dá para chegar lá em cima! Trabalhamos tanto, que não temos tempo de ganhar dinheiro. Quem dança sabe o segredo de quem dança, a dor de quem dança, o perrengue que é segurar o xixi, o veneno que corre nos bastidores, o verdadeiro reflexo do espelho, a hipocrisia de ser artista, a falta de remuneração e, acima de tudo, o quanto é difícil dar a cara para bater num palco, em troca de palmas.

A palma é a nossa moeda local, nossa esmola, nosso tesouro. Vamos lutar a vida toda para ensinar ao grande público o real valor da palma. Vale o esforço que for para ouvi-la, concorda? Para fazer desta luta mais suave e para fazer da competição mais justa, façam um esforço, bailocas: aplaudam a próxima!

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